
Uma brisa dormente
assalta as consciências humanas
um menino grita
dilacerando a madrugada de mísseis e obuses:
- Tata morreu na guerra
- Aiuê tatauê!
- A fome comeu mamã
- Aiuê mamauê!
- Aiuêeee! Suku, meu Deus, Nzambi...
E a guerra
é só uma guerra
uma guerrinha só
matando, secando a Lavra.
Da guerra
colhemos guerra
a guerra tudo nos tira.
E a guerra
é só uma guerra
duma vontade só
parindo ngongo e sangue
e o País - obsidiado
e Monangola - exangue
ficam sem espera e destino
à beira do pó dos caminhos.
E mesmo no meio da guerra, foi então que se viu
o que não se vira antes:
Camaleões com asas vieram
lá do beco fundo da morte
e sobre o teu corpo negrinho
- inchado de vácuos de fome -
vieram pairando e sugando
com dentes afiados e garras-guerras
retorcidas.
Tata - pai
Suku - Deus (centro e sul de Angola)
Nzambi - Deus (norte de Angola)
Ngongo - Sofrimento
Monangola - Filho/crianca de Angola (mona + Angola)
NAMIBIANO FERREIRA