2 de fevereiro de 2010

HAIKAIS DO TEMPO DA GUERRA





São estes haikais, ou tentativa deles, feitos no tempo da guerra. Daquela guerra... quando nada mais sabíamos fazer a não ser matarmo-nos uns aos outros num fraternal abraço guerreiro. Uns porque defendiam capitalismos, outros, diziam-se do ideário socialista ou social-democracia e os nossos, os que construiram a República Popular, acérrimos defensores do marxismo-leninismo, tudo pelo povo, nada contra o povo....
Creio que, com o passar do tempo de guerra, esqueceram-se dos brados de luta ...é o povo ...é o povo.
A guerra acabou, enterrámos as divergências, constrói-se o país novo e todos TODOS, hoje, somos CAPITALISTAS, engordando. E o povo? O povo, esquecido que se lixe... pobre, roto, esfomeado alastrando musseques...
Mas tenho estes haikais do tempo da guerra (ou tentativa de haikais), nada mais do que ais – aiuês do povo – no choro da terra que os políticos não ouviram nos tempos da guerra, porque do barulho dos obuses e continuam sem ouvir agora, porque se fingem de SURDOS... talvez consequências nefastas do barulho (antigo) dos obuses.
E os Deuses? Não ouviram também e não querem ouvir. Dormem! Dormem há muito, porque cansados de aturar o Homem.






OS HAIKAIS (DO TEMPO DA GUERRA)


1
Um vasto pasto.
Arreganhando dentes
Hiena também ri.


2
Chegam kissondes.
A caminho da lavra
Perna perdeu pé.


3
Cantos tonantes.
O caminho vedado
Não impede kissonde.


4
Chão de riquezas...
Minha gente da terra
Fome e pobrezas.


5
Cantam cigarras.
Escondida na lavra
Morte rasteja.


6
Chuva dorida.
No ombro da estrada
Cruzes silentes.


Namibiano Ferreira


Kissonde/quissonde – formiga carnívora.


3 comentários:

DECIO BETTENCOURT MATEUS disse...

Os Haikais, uma curiosa variante poética, numa menssagem bem conseguida. Valeu mano, gostei.

Albert Lázaro-Tinaut disse...

Me parece muy interesante y, sobre todo, muy solidario este blog. Lo seguiré con atención: parabéns!
Saludos cordiales desde Barcelona.

Anónimo disse...

Adorei os Haikais! Segue abaixo um do Paulo, você conhece?

"Morreu o periquito,
A gaiola vazia
Esconde um grito"

Paulo Leminsk

Abraços.