11 de novembro de 2009

PARA NUNCA MAIS A GUERRA

Este poema andava perdido entre os papéis e velhos textos. Devia ter sido o primeiro poema a publicar neste blogue, porque foi ele a razão do seu apareceimento. Mas nunca é tarde e neste dia de celebração (Dia da Independência) não fica mesmo nada mal lembrar, novamente e sempre-sempre: PARA NUNCA MAIS A GUERRA!


Meninos de Tombwa




Viajando pelo vento dos tamarindeiros
procuro o secreto caminho
que há-de conduzir nossos passos
trôpegos e cansados
à glória de um Futuro brilhante.




Mas, ainda à sola dos nossos pés,
sujos e gretados
gruda-se o lodo informe dos mortos,
um lodo fétido gruda-se
também às nossas almas
rotas e cansadas.
Inda se ouvem os gritos
dos meninos amputados
das mulheres desventradas
e o lodo traz os tanques fantasmas,
cicatrizes disformes,
abandonados e queimados.
Caminhamos... devagar ainda
e os cemitérios de guerra
florescendo no altar dos nossos olhos
bordados de cruzes
no calcanhar triste da picada.
Vamos, irmão, esquecer o passado triste
mas num grito que não se cale nunca
para não fazer esquecer:


PARA NUNCA MAIS A GUERRA!


 
Namibiano Ferreira

10 de novembro de 2009

E OS HOMENS DA TERRA...

O novo livro de Décio Bettencourt Mateus, Xé Cadongueiro*, já está na rua. Pelo menos na rua virtual e neste caso específico no blogue do autor, Mulembeira. É o  terceiro livro deste jovem e talentoso poeta angolano. Pelo que nos foi dado apreciar, pelos dois poemas publicados no seu blogue e que fazem parte deste novo projecto poético, Décio está ainda melhor do que antes. Ninguém se esquece de poemas como: “Discurso no Parlamento”, “Os Meus Pés Descalços”, “A Zungueira”, “Carta de um Angolano no Estrangeiro”, "As Mãos da Mãe" "Poeira Voltou" e muitos outros que já são marca de qualidade na poesia deste poeta angolano. A sua inclusão neste meu blogue é porque este poema, que passo a trasncrever, é o culminar de muitos e prolongados anos de guerra. Dias de guerra que se trasnformaram em anos. Uma guerra em que o povo foi a principal vítima e que nunca pensei ver terminada durante a minha vida. Felizmente acabou e a Paz é possível porque, como diz o poeta, E os homens da terra conversaram!

Obras anteriores: "A Fúria do Mar" e "Os Meus Pés Descalços"

* A palavra candongueiro (de candonga) é a pessoa que se dedica a contrabando, é um contrabandista mas, actualmente em Angola tem um outro significado: é um mini autocarro (ônibus) que faz o serviço semelhante ao de táxi. Quando apareceram em Luanda, esta actividade era ilegal, daí o nome candongueiro.


Namibiano Ferreira




E OS HOMENS DA TERRA...



E os homens da terra
Sentaram-se! Frutos silvestres
Emprestaram sabedoria e sombra
Poeiras campestres
Abençoaram papeladas
E acordos nos matos das picadas!




Um vento a soprar agreste
As terras do leste
Falou-me d’homens sentados
Em troncos e pedras
A falarem acordos e palavras
E obuses de canhões silenciados!




A taça do sangue das armas
Entornou-se! Batuques e lágrimas
Das gentes magricelas
A espreitar homens da terra
Sentados, a falarem paz em palavra
E sonhos e acordos d’estrelas!




A tumba dos homens apagados
Em camuflados e botas
Aplaudiram palmas
Kazumbis e almas
Dançaram alegria nas matas
E homens sentaram pedras d’acordos!




E as patentes da terra
Conversaram! Calaram-se ruídos
E fuzis d’homens fardados
A barulhar palavras e guerras
Conversam os homens nas pedras
E nos troncos dos acordos!


E os homens da terra conversaram!


Décio Bettencourt Mateus.


Luanda, 26 de Novembro de 2007.


in "Xé Candongueiro"

Visite o blogue do poeta: http://mulembeira.blogspot.com/